domingo, 11 de abril de 2010

Pedofilia, uma doença de desamor, um pecado mortal

A pedofilia muitas vezes é encontrada no próprio seio familiar. Mas é um mal que afeta a todos e precisa da indignação e da ação de todos para ser extirpada.

O filme A Estranha Perfeita, drama dirigido por James Foley e estrelado por Halle Berry, Bruce Willis, Giovanni Ribisi, Gary Dourdan, Richard Portnow e Patti D'arbanville, conta a história de uma repórter que supostamente começa a investigar o assassinato de uma amiga. Tomada por flash backs de quando era criança e era abusada sexualmente pelo pai, a personagem central da trama demonstra uma instabilidade emocional pela qual parece ser incapaz de manter um relacionamento. Um dos três finais gravados para este filme revela a repórter durante todo o tempo manipulou as demais personagens, conduzindo o público a pelo menos dois fortes suspeitos quando, na verdade, ela mesma teria matado a amiga, que era a única a conhecer a verdade sobre sua trágica infância de abusos frequentes e morte de seu agressor pelas mãos de sua própria mãe.
Apesar de o filme aparentemente desejar enfocar muito mais a questão dos riscos dos relacionamentos iniciados pela internet, o enfoque secundário da questão da pedofilia é extremamente pertinente, uma vez que reflete uma dramática realidade da nossa humanidade, na qual a violência sofrida jamais é esquecida e os traumas causados por ela vão interferir por toda vida no caráter e no psiquismo da vítima.
Porém, nós passamos por consecutivas gerações através dos tempos em que a prática da pedofilia não denotava, exatamente, uma tara ou um risco para a integridade mental de quem a sofria. Em diversos tempos e culturas ocorreram e ocorrem casamentos e relacionamentos sexuais, afetivos ou não, entre pessoas mais velhas e crianças. Em comunidades hindus e muçulmanas, o casamento de homens com meninas de até quatro anos de idade são tidos como prática cultural, embora choquem o mundo ocidental.
A questão da preservação da pureza da mulher é o principal motivo desses casamentos, uma vez que a mulher depois que menstrua passa a ser impura aos olhos daquelas culturas.
Mas não são apenas as meninas as vítimas dessa violência. Os crescentes escândalos e denúncias envolvendo padres católicos cometendo pedofilia contra meninos, em geral coroinhas, não possuem justificativa cultural ou religiosa plausível, é apenas tara. Isto, sem contar os inúmeros e constantes casos de tráfico sexual que afeta tanto meninos quanto meninas e mulheres e no qual o Brasil exerce importante lugar de destaque como fornecedor desses espécimes, que são mesmo tratados como mercadoria.
O problema é que, pertencendo ou não à realidade cultural de uma sociedade, a prática sexual da pedofilia vem causando ao longo das eras sérios abalos no psiquismo das crianças que são vitimadas desta forma. E tais vítimas não estão isentas de traumas mesmo quando o contexto é cultural.
As taras sexuais são e têm sido um dos maiores veículos da propagação do que a difamada Igreja chama de pecado, pois agride à própria vitalidade das pessoas e sua integridade enquanto ser, que é o mesmo que atentar contra o lado mais nobre e divino dos seres.
Em matéria de classificação, a Igreja poderia relacionar este como um pecado mortal, cometido mesmo contra o Espírito Santo. Mas isto se em seu próprio seio não abrigasse representantes flagrantemente pecadores.
Para além das linhas fronteiriças do prelado católico, de suas crenças e suas leis, está a realidade de uma prática doentia e malévola, indigesta para o nível de consciência moral que a humanidade carrega hoje, independente de estar ou não, eu repito, respaldada por circunstâncias culturais.
Assim, como o problema não incide apenas nos meios religiosos, havemos de notar que a doença acomete pessoas com sérios distúrbios no campo moral, provavelmente causados pela carência de amor fraternal, que também é o responsável primeiro pelos males em geral da humanidade.
Como a carência de amor é comum à grande maioria humana, não se poderia encontrar uma medida paliativa para a questão, e por isso, no Brasil, pedofilia agora é crime passível de condenação ao cárcere ou, em alguns casos, à castração química.
Como diz o ditado, “se não vai pelo amor, vai pela dor”.
A pedofilia, assim como outros tipos de doença moral, possui um poder de degeneração social que inclui um escuso movimento de propagação que pode ser chamado de contaminação.
Alimentar bancos de dados com fotos sensuais de crianças, filmes pornográficos envolvendo menores e até conversar a respeito é, por si, a flagrante da necessidade que o doente possui de compartilhar suas experiências com muitas pessoas, pois isto, saber que outros são como ele próprio, o ajuda a alimentar sua doença. E este sintoma talvez seja o mais perigoso tipo de propagação que se dá nos ambientes virtuais da internet.
No Brasil, mesmo que já seja considerada uma prática criminosa, a pedofilia continua ocorrendo à larga. Em primeiro lugar por conta da exploração da pobreza, especialmente, na região nordestina do país onde a menina e a mulher, e depois os meninos e rapazes, como citamos acima, são facilmente transformadas em moeda; depois, por conta da falta de denúncia, pois a maioria dos casos conhecidos se dá dentro da própria família, com parentes próximos, o que inibe a vítima de querer efetuar a denúncia.
Portanto, não importa o seu nível de indignação, revolta e asco para com essa prática terrível. É de sua responsabilidade, tanto quanto minha ou de qualquer um, registrarmos nossa indignação, agirmos efetivamente contra este mal através da denúncia e, acima de tudo, semeando o amor incondicional em nossos corações e atitudes, para que o amanhã seja marcado por gerações tipicamente amorosas, incapazes de cometerem tais atentados contra a integridade da vida.

Snap vira brincadeira de matar

Enquanto esteve incógnita, o jogo do “snap” teve tempo de se propagar à solta entre os jovens. E agora, que já chegou a matar e todo mundo sabe o que significa, qual a sua postura? No fundo, esta é uma questão de educação.


Os desafios adolescentes são conhecidos desde os tempos mais remotos. Na época em que os hormônios afloram e trazem à tona desejos sexuais e uma rebeldia febril contra regras e determinismos, jovens do mundo inteiro buscam maneiras cada vez mais ousadas de testar os próprios limites.
Com um estupendo poder de propagação, os jovens inventam aqui e em pouco tempo a prática já existe ali e acolá.
Foi o que ocorreu com o “snap”, que a princípio era apenas um ritmo da primeira geração de dance music moderna surgido na Alemanha, e se transformou na brincadeira do sexo na Inglaterra, em 2006. Ganhou o mundo e se transformou num dos maiores terrores para pais de adolescentes e também para a polícia, que já se deparou com casos de agressão e morte por causa da referida “brincadeira”.
Trata-se de jogos de pulseiras coloridas que os jovens usam como acessório e que indicam que a pessoa que as usa está disposta a participar de alguma prática sexual, que vai do carinho ao ato sexual completo. A pessoa usa, o outro vem e, se conseguir arrebentar alguma das pulseiras, ganha o direito de ganhar alguma prática que é indicada por uma tabela de cores. Se a pulseira arrebentada for dourada, pode rolar qualquer coisa que se deseje.
Manaus foi palco de tragédia para duas jovens que tiveram pulseiras arrebentadas. Na última sexta-feira santa, a primeira foi morta em Valparaíso, e a segunda foi assassinada no sábado de aleluia, no bairro Morro da Liberdade.
Os “deslimites” a que chegam esses jovens que se expõem ao risco sem sinal de pudor ou respeito à própria integridade física e moral preocupam pais e autoridades, que não sabem como dar um basta à onda.
Quando questionados, os jovens afirmam que não vão parar de usar, mesmo que haja proibição legal, como sugere a iniciativa de muitos vereadores como Beth Sahão, do PT de São Paulo, que protocolou na última quinta-feira, dia 8 de abril de 2010, o projeto de lei que proíbe o uso das pulseiras do sexo em instituições de ensino.
Muitos desses jovens ainda não sabem o significado do uso das pulseiras e o fazem por modismo. Estes, quando questionados, alegam que “ninguém pode obrigar outra pessoa a fazer o que não quer”. Mas os assassinatos em Manaus provam que a coisa não é bem assim. Então, a questão é? Qual a sua postura diante disto?
Mais uma vez, a problemática remete à deficiência trágica no quesito educação, especialmente, no seio familiar, onde os valores morais devem ser transmitidos com mais empenho; mas também nas escolas, onde se aboliu a filosofia, que essencialmente é a busca amorosa pela verdade, e por isso oferece meios de a pessoa desenvolver mais facilmente valores morais elevados, em nome da condução do ser à excelência e à nobreza de caráter.
Afinal, o que sentem por si mesmos os jovens que aceitam participar de jogos onde colocam em risco sua própria integridade?

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Declaração anticristã no mundo evangélico

O pastor Renato Vargensv, apologista, escritor – autor de vários livros – e articulista, possui um blog elegantíssimo na internet. No estilo clean, com divisões bem estruturadas e de muito bom gosto visual, o pastor possui sábios artigos de invocação à prática verdadeiramente cristã, evocando aos corações humanos o bom senso para resgatarmos a crença no perdão e na salvação eterna através do arrependimento. Todavia, qual não foi minha surpresa ao ser indicada por um amigo para ler um outro artigo seu, desta vez no Portal Padom, intitulado “Chico Xavier está no Inferno) (http://padom.com.br/chico-xavier-esta-no-inferno).
O clamor que sai da mente do referido pastor decepciona a si mesmo a partir do momento em que este, ao se referir a Chico Xavier, afirma categoricamente que este hoje arde no fogo do inferno por ter “negado a fé, ensinado um falso evangelho e acreditado na reencarnação”.
Ora, ainda que isto fosse verdade, coisa que não faz o menor sentido num tempo em que a reencarnação está comprovada ou em via de ser comprovada cientificamente, que falsidade há numa prática absolutamente franca e amorosa de doação e renúncia das riquezas mundanas e da própria vontade, como foi toda a vida de Chico?
E que prova de cristandade nos dá este pastor, formador de opiniões e que se faz corresponsável pela propagação da fé cristã e do evangelho ao soltar verborreia preconceituosa, nas quais pretende para si o poder que somente ao superior, quiçá, somente a Jesus, pertence, que é o de julgar a outrem com afirmação tão ousada?
Lamento, mas minha indignação tinha de ser registrada. Não pela discordância entre os conceitos que trago para mim e os que ele cultiva para ele, mas pela incoerência com que o pastor Renato Vargensv vai a público, ora defendendo o direito ao perdão eterno, ora afirmando que alguém, somente por não seguir os preceitos aceitos por ele, cairia em danação eterna.
Isto não combina sequer com a postura de Jesus, que acolheu em seu coração judeus, romanos, essênios e tantos outros, no montante da humanidade inteira, sem qualquer tipo de preconceito.
Na lição do “amai aos vossos inimigos”, na prática da caridade pura, o senso do verdadeiro evangelho.
Foi com semelhante amor do Cristo que Chico Xavier acolheu em torno de si católicos, ateus, espíritas, evangélicos; sem jamais ofender a ninguém ou levantar falso testemunho ou negar ajuda. Chico foi homem incapaz de acusar alguém de qualquer coisa e, mesmo quando questionado em situação de estreiteza, como que conduzido a falar mal de doutrinas e religiões diversas de suas crenças, ele não o fez, dando para o mundo o verdadeiro apostolado cristão.
Creio não ter havido neste mundo outro com maior capacidade de viver na prática o evangelho ensinado por Jesus.
Assim, meu caro pastor, com todo respeito que tenho pelas posturas alheias e pelas religiões, deixo registrada minha profunda indignação. E que, numa próxima, que o senhor pense duas vezes antes de ferir a própria palavra com acusações e afirmações impossíveis de serem comprovadas apenas pelo “achismo”.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Como é difícil ser honesto

Até que ponto a honestidade é um atributo possível para o ser humano? Avaliando o nosso modo de vida, chegamos à conclusão que é praticamente impossível ser honesto no mundo em que vivemos.
Desde pequena ouço pessoas levantarem bandeiras de honestidade. Nossos pais nos pregam isso e também os professores, na escola. Todavia, a vida nos ensina a mentir, a roubar e a sermos desonestos em todos os setores de nossas vidas.
Você dirá: “não, imagine”, conheço várias pessoas honestas de verdade; eu mesma sou uma pessoa incapaz de cometer qualquer ato de desonestidade!”.E a você, meu amigo ou amiga, eu retrucarei dizendo que você está equivocado ou equivocada com relação a isto; apenas ainda não se deu conta.
Um exemplo bem corriqueiro é a nossa moderna relação com a informática. Pra começar, quando compramos um computador novo e precisamos instalar nele softwares de uso diário como os do conjunto Office, “só para efeito de praticidade”, deixemos ou pedimos até, que o técnico instale lá uma cópia do programa que ele tem na maleta de acessórios dele e pronto! Está feita a pirataria. E você ainda se acha honesto! A mesma pirataria você exercita uns dias depois, quando começa a usar seu computador novo e baixar da rede uma enorme quantidade de músicas, filmes e seriados… sem pagar nada por isto!
Então chega aquela difícil situação em que você precisa comprar um presente de última hora, consertar um carro que quebrou ou simplesmente abastecer sua dispensa. Você sabe que já gastou todo o salário e que usar o cartão de crédito vai ser uma fria porque o salário do mês que vem não vai dar para saldar e o cheque especial já está estourado.Você pensa consigo mesmo: “Ah! Depois eu dou um jeito; preciso, vou gastar!”. Nos meses subseqüentes, a situação piorou tanto que você, para dar um jeito na situação, vai começar a inventar diversos culpados para ela até conseguir angariar a solidariedade de alguém para resolver o problema; e até vai acreditar nas próprias invenções, convencendo-se de que o governo é mesmo o culpado; ou o banco com suas taxas insuportáveis; ou o ex-marido que lhe deixou a ver navios; ou seus pais, que não lhe deram toda a atenção de que você precisava na infância.
Aquela pessoa de quem você até gosta porque é sempre ela quem lhe socorre nos momentos mais difíceis, mas fala demais, e só reclama da vida, telefona para você. Você, então, rapidamente inventa que está de saída, no meio de uma reunião ou com uma situação terrível e urgente que requer sua atenção no momento e desliga.
Por menores e mais insignificantes que pareçam, essas situações ainda são expressões de desonestidade.
A influência externa não ajuda. Diariamente você vê políticos envolvidos em escândalos e saindo ilesos dos mesmos. Obras superfaturadas, estratégias bem montadas para favorecer este ou aquele partido, manobras nepotistas e vai por aí afora… tudo passando em branco e “terminando em pizza”.
Caso absurdo é o das vítimas de sequestro relâmpago, estelionato por coação ou chantagem e até mesmo invasores de conta bancária pela internet. A vítima, além de perder o dinheiro e ficar traumatizada, ainda pode ter sua conta bloqueada, virar alvo de inquérito policial e, quiçá, ter sua conta definitivamente fechada no banco,
Outro exemplo clássico de desonestidade engloba os benefícios sociais. Pessoas que se fazem de inválidas para conseguir abonos e pensões do governo ou que, de alguma forma, fingem ser o que não são para conquistar o que desejam de forma fácil e sob a proteção da lei. Como são, também, os casos de pessoas que trocam as etiquetas de um produto caro pelas de produtos mais baratos no supermercado. Quanto a isso, não é à toa que na fórmula de confecção do preço está inclusa a taxa de furto ou dano por terceiros.
Uma desonestidade aparentemente inocente, mas extremamente nociva, é o atentado contra o meio ambiente. Pessoas que levantam a voz para dizerem “salvem o planeta”, mas continuam abusando dos eletrodomésticos, lavando calçadas com esguicho, consumindo mais do que o necessário e jogando seus lixos nas ruas, entre outros atos mais graves.
Do menor ao maior grau, a desonestidade vem sempre acompanhada da mentira. Aliás, a mentira é mesmo uma forma de desonestidade, e todos nós mentimos, nem que seja para evitar situações de conflito ou magoar alguém.
Ora! Se você mente, você não sesta sendo exatamente um exemplo de honestidade. Por outro lado, dependendo da sua mentira, poderá ser absolvido por qualquer tribunal que exista, inclusive, o da própria consciência.
Os evangélicos cursam um caminho que passa pelo surto de honestidade. Ao aceitarem Deus em suas vidas e começarem a viver conforme Suas leis, eles incluem em seus depoimentos todos os seus deslizes, erros e até crimes passados. É a forma que têm de dizerem a Deus e ás suas consciências “errei, agora não erro mais”. Todavia, fazem isto não porque mudaram o que são, mas porque encontraram o perdão numa força maior na qual podem ou devem confiar. Mas, se Deus os decepcionar, se Ele não lhes der o livramento esperado, então a crença boa se desfaz rapidamente, dando lugar ao antigo padrão que diz que se outros cometem erros e não sofrem punição e eu, que me subjuguei a Deus estou sendo punido, melhor é contrariar a Deus e seguir conforme minha própria sentença.
De fato, o que dista ou aproxima uma pessoa da honestidade é o senso de punição ou impunidade que ela tem. Ser ou não honesto não significa grande coisa, o que implica é ser ou não punido. Não fosse assim, não haveria leis esdrúxulas que qualificam um delito como aquele citado, de baixar da internet uma certa quantidade de material, músicas,filmes etc. como legais até uma quantidade X e ilegais a partir deste número.
O problema é que honestidade, assim como qualquer valor humano, é algo pertinente ao espírito e está diretamente vinculado às leis que regem o Universo em que vivemos. O problema é que conhecemos muito pouco as leis humanas; e menos ainda as cósmicas. Sem o conhecimento, aumenta ainda mais o senso de impunidade e o abuso da desonestidade.
Como as nossas regras e condutas estão tão voltadas para o lado material da vida, difícil se torna lembrar-se da transitoriedade da matéria; e por isso a humanidade acaba sendo desonesta consigo mesma. A meu ver, esta é a pior forma de desonestidade, pois resulta em mácula para o próprio espírito, que pode ficar estacionado em seu processo evolutivo.
A reflexão, portanto, é a respeito de que tipo de conduta o ser humano deve cultuar em si mesmo a fim de encontrar o caminho honesto da vida, onde as leis divinas se sobrepõem a qualquer outra, dignificando a existência terrena.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

A Fatalidade do Amor

A herança genética de Javé, o deus criador, e o caminho de amor-renúncia que Jesus nos fez conhecer como aspectos a se considerar diante da jornada do ser humano pela libertação espiritual e expressão maior do amor incondicional.
“A gente sempre destrói aquilo que mais ama em um campo aberto ou numa emboscada; alguns com a beleza do carinho e outros com a dureza da palavra;covardes destoem com um beijo, os valentes, destroem com a espada”. Paulo Coelho
O amor tem um poder fatal. Mais cedo ou mais tarde, ele acenderá a chama de uma verdade e isto aniquilará a coisa que o comporta. O amor não faz isso por ser um mal, ao contrário, ele age na direção do que é correto, mas muitas vezes é incompreensível à personalidade humana, que ainda é passional.
No homem, ele dá aderência ao moral. Todavia, o moral do homem é dominador e unilateral no sentido do direito que a sociedade lhe conferiu de trair, mas não admitir ser traído; impor suas regras, mas não tolerar as da mulher; exigir compreensão e perdão, mas não perdoar uma companheira que não age conforme suas determinações; conquistar levianamente sem zelar pela estabilidade emocional da mulher conquistada, e por aí vai.
Na mulher, por sua vez, ele adere, prioritariamente, à carência, própria da mulher sensível, e à cadeia hormonal do ciclo menstrual e se torna histeria, confusão mental, tenebroso descontrole emocional; muitas vezes, isso resulta em depressão que pode chegar à insanidade e até ao suicídio.
Em ambos os casos pode gerar crimes passionais ou, mais propriamente no caso das mulheres, grandes ardis orquestrados pelo sentimento de vingança. O curioso é que os dois, tanto o homem quanto a mulher, agem com incrível poder destrutivo em nome do amor.
No mundo de dualidades em que vivemos, é comum atribuir ao amor a responsabilidade pela existência do ódio. Não é uma associação de todo errônea, mas isto tem sido um foco nocivo para o psiquismo humano, que se habituou às dicotomias sem se habilitar, como deveria, com o aspecto totalitário das questões.
Assim, numa existência sem clareza em que a necessidade do amor se confunde com o extenso planalto de carência que há no íntimo da maioria dos seres humanos, o objeto de desejo é ou se torna facilmente uma obsessão, e o casamento é uma rinha onde vez em quando os cônjuges se confrontam.
Quanto mais o inconsciente coletivo aventa a ideia do individualismo libertador, mais se intensificam as brigas, os confrontos entre homens e mulheres e, obviamente, os crimes passionais. Isto se dá porque ninguém, ainda, atentou para o fato de que o equilíbrio não está em dar à mulher o poder que o homem tem exercido há séculos, mas em sair fora do círculo de poder onde os gêneros humanos se confrontam. É hora, pois, de rever o foco humano para que enfim se possam eleger os direitos e deveres do ser dito pensante como ser completo e igual a outro, tanto em potencialidade quanto em recursos.
Porém, nem sempre a consciência adquirida disto, nem da real importância e característica do individualismo inspirado pelo alto em nossos dias, liberta o amante da passionalidade animal que surge em meio à rejeição do objeto do seu amor.Nesse contexto, revelam-se claramente as diferentes naturezas amorosas de Jesus, que é um com o Pai Amantíssimo, e de Javé, que é o deus criador deste universo.
O consórcio do homem ou da mulher com a natureza de Jesus, que é afável e dulcíssima, inspira à renúncia ou, em grau menor, à resignação. Porém, é uma aliança que se escolhe fazer quando se compreende e se aceita o Cristianismo. Em outras palavras, é uma escolha que fazemos em nome do amor pacífico e repleto de mansuetude, como é o do próprio Mestre.
O consórcio com o amor punitivo e exigente de Javé, ao contrário, não é decorrente de uma escolha consciente. Ele faz parte de uma herança genética que impregna nosso psiquismo com tamanha força que poucos são os que escapam de seu controle.
Entendamos que, por não ser compreendido e tampouco aceito, o amor que sofre rejeição nos parece terrível porque age no psiquismo humano com a carga genética de um deus aflito que ama não com a doçura de Jesus, mas com o desespero de quem precisa exercer o controle sobre a sua criação e tem dificuldade em aceitar, na condição em que está, outro tipo de tratamento que não o da subordinação plena.
Jesus ensina através do próprio exemplo, ama sem pedir nada em troca e exerce com extrema leveza seu jugo. Javé, ao contrário, ordena, impõe leis severas, pune quem não as cumpre.Afora a ousadia da qual me municio enquanto autora dessa reflexão, essas questões estão em boa hora de serem aprofundadas no exercício de meditação ou introspecção de cada ser humano sobre a terra, já que estamos aparentemente todos já cansados de repetir experiências tendo de pendermos sempre para extremos, sem jamais experimentarmos o libertador caminho do meio sugerido por Budha. Todavia, é justamente no caminho do meio que se encontra a trilha possível para o eu superior, que é desprovido do psiquismo, que é inerente à personalidade.
A liberdade e a vida eterna pertencem a esse espírito de identidade, suprema sobre todas as demais, que a personalidade cria para se manter na grandiosa rede genética de Javé. Mas também o amor, em sua forma ampla, criadora e ígnea, é algo que nutre e pertence a este eu superior. E este é o amor que se encontra no seio e no todo que é Jesus. Já o que se vê nas formas menores do ser, tanto no homem quanto na mulher, é apenas um retalho de amor.
No tanto que suporta a frágil personalidade, que está fadada a morrer diante do próprio eu que o rege sob a lei da fatalidade que o amor congrega no exercício de sua plenitude, sendo assim incondicional, não há esperanças de liberdade espiritual enquanto houver segregação de gêneros, raças, ideologias etc. Pois a personalidade chegou ao seu limite de suportabilidade; e apenas porque não compreende que para ir além é necessário abrir mão de si mesma, engendra em seu ventre a semente de destruição que sofre, abandona e até mata por amor.

domingo, 5 de julho de 2009

Psiquismo, uma ilusão onde o bem e o mal residem

Controle da mente, hipnose de reprogramação, mudança de DNA, indução, linha do tempo e outros são apenas paliativos que atingem o psiquismo. Até que ponto esses recursos mudam mesmo uma pessoa?

Desde que os Estados Unidos começaram a lançar livros de auto-ajuda, a humanidade tem se voltado cada vez mais para técnicas que prometem mudanças rápidas e eficazes nos padrões de comportamento, limpeza do passado triste ou doloroso, libertação de traumas e até mudança de DNA.
Não podemos negar que os resultados chegam com certa prontidão, no sentido de que a pessoa fica por algum tempo mais envolvida consigo mesma, mais otimista com relação ao sucesso que poderá alcançar na vida, além de aprender responder aos percalços do caminho com mais otimismo. Porém, em que parte do composto humano essas técnicas atuam?
Nas últimas décadas temos nos envolvido tanto com o avanço da medicina, seus antibióticos potentes e exames minuciosos proporcionando a rápida recuperação dos pacientes, que desejamos imprimir o mesmo imediatismo nas questões psíquicas.
Da mesma forma, com o crescente número de igrejas que ensinam seus fiéis a exigirem de Deus mudanças radicais em suas vidas materiais em troca da fé e do dízimo que lhe ofertam, evidencia-se um novo padrão de comportamento humano. Na verdade, não sei se é tão novo assim, já que o próprio Sr. Jeová, ao tempo em que elegia profetas para falarem em Seu nome, fazia barganhas como essas com seus escolhidos.
Na pressa ou imediatismo que envolve a busca por resultados se escondem uma crença padronizada de que algo externo vai mudar seu modo de ser, sua condição financeira, seu nível de satisfação para consigo mesmo e para com o mundo como um todo. Ou seja, uma crença imperiosa de que a responsabilidade de qualquer mudança não recai sobre seus próprios esforços, mas na competência de outrem.
Não é à toa que a cirurgia plástica tem feito tanto sucesso no mundo. Ela é capaz de trazer resultados rápidos para uma mudança efetiva da aparência com a qual não se está satisfeito.
E o ponto é justamente este: aparência!
Ao se verem ofertadas receitas práticas de operar mudanças íntimas, pessoais e inadequadas, muitas vezes desagradáveis até ao convívio social, as pessoas se inclinam a comprar aquela que se lhe pareça mais rápida ou eficaz, conforme o sistema de crenças de cada um.
A questão é que o conjunto psíquico que compreende comportamentos, reações humanas e até emoções, não passa de uma roupagem aparente que esconde o verdadeiro eu que há em todos nós, essencialmente falando. E tudo o que é superficial ao ser interior é acessório para o espírito, que necessita dessa roupagem para viver as experiências terrenas. Disto se deduz que tanto o corpo quanto o psiquismo são meros instrumentos dos quais o espírito se serve para se lapidar intimamente, mas jamais serão o seu eu verdadeiro.
Da mesma forma como a cirurgia plástica altera o que há de indesejável em seu corpo físico, técnicas de PNL, hipnose, indução e reprogramação mental alteram o que há de indesejável em sua personalidade. E a pressa de mudar é tanta que não se perde tempo em procurar outra via de mudança.
Todavia, se nem o corpo físico nem a personalidade são de fato você, como esses paliativos de mudança podem ajudar você a mudar?
Na verdade, não podem muito. É muito válido ter uma aparência melhor para ser aceito na sociedade. Semelhantemente, é muito válido um temperamento moderado para quem deseja adquirir um conjunto de comportamento mais equilibrado. Mas você não vai se tornar um espírito melhor por conta dessas mudanças exteriores.
O problema está em conhecer a medida do que é ser melhor. No mundo de ilusões em que vivemos, atuando com um corpo ilusório e um psiquismo também feito de ilusão, não se objetiva a outro resultado senão a aprovação do seu semelhante, dentro dos próprios padrões de aceitação que desenvolvemos em nossa sociedade, ou seja, dentro dos padrões que regem essa transitoriedade que, para o espírito, é totalmente ilusória.
Nenhuma técnica de atuação psíquica pode lhe dar resultados eficazes no sentido de progressão espiritual como a meditação.
É o mestre Paramahansa Yogananda quem nos revela, no livro Autobiografia de um Iogue, que toda verdade, luz e cura estão dentro de nós mesmos, e não em algum lugar fora.
O mestre Yogananda ensina a prática da meditação, na qual se deve perguntar “o que há por trás dos meus olhos fechados?”. No intervalo entre a inspiração e a expiração, no silêncio que a meditação e a prática da respiração proporcionam à mente superior, aos poucos a resposta surge, como um véu interior que se descortina deixando emergir a luz da verdadeira consciência.
Quem desperta a luz da própria alma, que é a verdadeira consciência do espírito, consegue um nível de equilíbrio interior que se reflete pouco a pouco na roupagem tanto corpórea quanto psíquica
Se o corpo físico é repositório para um sem número de males, o corpo psíquico também o é, com o agravante de servir como morada para a maior expressão da dualidade: o bem e o mal.
Se há um fundamento transcendental para a profecia do Juízo Final, quando haverá a separação do joio e do trigo (metáfora para mal e bem, respectivamente), ele certamente está relacionado a este nossos tempos em que, sem poder compreender os afãs do espírito, impregnamos nosso psiquismo com aquela tal “pressa da melhora”. Apenas o foco da mudança está equivocado: não é mudando o corpo ou o psiquismo que nos libertaremos do mal ou, mais profundamente, da dualidade que o abraça, mas sim mergulhando em nosso próprio íntimo até que se acenda a luz de nossa alma.
Não há outra forma de se obter saúde integral ou consciência desperta. Se você deseja uma mudança efetiva, uma evolução segura e equilíbrio total, deve se habituar à prática da meditação que o libertará de toda e qualquer forma de apego, esse grilhão atroz que elegeu o corpo como principal veículo do ser e o psiquismo como o próprio ser.

sábado, 2 de maio de 2009

Fim de Ato para Augusto Boal

Um dia que nos oprime. Um dramaturgo que se vai deixando saudade e um legado revolucionário em prol dos direitos humanos e da construção de um mundo melhor.
Augusto Boal, carioca da Penha, foi o criador do Teatro do Oprimido. Marcou a história do teatro nacional como diretor, dramaturgo e ensaísta.
Nasceu brasileiro, mas seu nome ultrapassou as fronteiras internacionais como aquele que aliou o teatro às ações sociais.
Seu ideal de popularização do teatro foi abraçado pelas escolas, ajudou na recuperação de pacientes mentais e amoleceu até mesmo as grades fortes dos presídios, e continua atuando, nos mais diferentes setores onde a cultura se une ou pode se unir à educação para a construção da verdadeira cidadania.
Um escritor de vanguarda nem sempre compreendido ou aceito. Com sua vasta atuação no Teatro de Arena, em São Paulo, que desde sua fundação pretendeu priorizar peças brasileiras com atores também brasileiros, contrapondo a tendência usual, especialmente, do TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), que investia em talentos europeus, notadamente, italianos. A este propósito, Boal somou o seu, de produzir espetáculos de baixo custo para trazer o público de baixa renda para o teatro.
Se a intenção era louvável, os resultados não lhe fizeram jus. Já à beira da falência total, o Teatro de Arena enfim deu a volta por cima com o espetáculo Eles não Usam Black Tie, do jovem ator italiano, recém-chegado ao Brasil, Gianfrancesco Guarnieri.
A partir de então, Boal começou a desenvolver uma direção que preservava cada vez mais a personalidade brasileira.
O sucesso de Black Tie durou 1 ano inteiro, o que permitiu a criação dos Seminários de Dramaturgia, através dos quais se pretendia revelar novos talentos nacionais, tanto atores quanto diretores.
A fase seguinte do Arena abriu espaço para os musicais. A essa altura, a dobradinha Boal e Guarnieri já estava consolidada. Notava-se, então, uma forte influência do dramaturgo alemão Bertold Brecht, no sentido de usar o teatro como veículo para suscitar discussões políticas e sociais.Com o Golpe Militar de 64, a forte repressão da Ditadura Militar começou, também, a atingir o Teatro de Arena e o trabalho de Boal. Todavia, já crescia em sua mente uma visão política comprometida com o povo e interessada na qualidade da formação do cidadão.
Boal, então, enormemente influenciado pelo trabalho de Paulo Freire, começa a pensar no que viria a ser o Teatro do Oprimido.
Com o Ato Institucional nº 5, o Arena viaja para outros países latinos, inclusive, Argentina. Mas a perseguição no Brasil é clara e dá muito trabalho a pessoas como Boal, que chegou a ser preso, torturado e exilado.
Assim, o Teatro do Oprimido começou a ser desenvolvido no Brasil, em 1971, mas, com o exílio, foi na França que realizou seu primeiro laboratório do Teatro do Oprimido.
O trabalho no exterior ajudou a propagar as ideias de Augusto Boal, que tem suas obras publicadas em cerca de 20 países, inclusive, na China.
Em 1992, foi eleito vereador pelo PT, no Rio de Janeiro. Foi quando criou o Teatro Legislativo, que consistia em pequenas peças que, na verdade, eram propostas e projetos de leis.
Foi consagrado Embaixador Mundial do Teatro e, no ano de 2008, indicado ao prêmio Nobel da Paz.Em suas palavras, um ideal e uma nova visão para o mundo:
“cidadão não é aquele que vive em sociedade, mas aquele que a transforma”.
Augusto Boal tornou-se cidadão imortal por sua obra, e devemos todo nosso respeito a ele e a tudo que representa.
Em 2 de Maio de 2009, morre Augusto Boal, carioca da Penha, cidadão do mundo. Vitimado pela leucemia, aos 78 anos muito bem vividos e doados.
É um fim de ato. Sai de cena Augusto Boal.
Que Deus o receba nos palcos celestes para que, de lá de cima, os palcos também se iluminem com a presença deste incrível sonhador que através do teatro desejou mudar o mundo.