sexta-feira, 20 de março de 2009

Futuro sem Segredo

escrito em jan/2008

Não há respostas fáceis para a questão da crise mundial. Apenas pessoas ousadas e criativas, conscientes do todo, é que, de uma maneira diplomática e efetiva, poderão amenizar o problema do aquecimento global e administrar com sabedoria problemas emergentes como as inúmeras doenças viróticas e bacteriológicas que surgem em todos os cantos do mundo sem que se tenha vislumbrado as terríveis proporções que essas “pestes” atingirão.
Os mais atentos percebem que qualquer tentativa de reverter a destruição do planeta ou da raça humana que nele habita deve ser intensamente colocada em prática desde já. Em aproximadamente 20 anos, se a população mundial não estiver devidamente conscientizada e trabalhando em prol da regeneração planetária, mudando seus hábitos e sua visão de mundo, será praticamente inevitável manter a vida humana sobre a Terra.
O apelo de Al Gore, prêmio Nobel da Paz de 2007, não pode se tornar uma voz no deserto. Tampouco o prêmio a que fez jus pode calar sua voz de clamor e conscientização. Ao contrário: devemos ver em seu trabalho apenas um incentivo para nossa própria mudança.
Paralelamente ao trabalho de Al Gore, surgiu um movimento globalizado em torno do livro O Segredo. Sua visão, assim como tudo o que foi semeado de bom no mundo, usa uma verdade edificante para nos desviar das leis que regem o cosmo, promovendo não o controle mental e a ação correta, mas a idéia egocêntrica e materialista da posse.
Sobrepujar os valores materiais e as posses aos valores morais e espirituais tem sido em todas as gerações terrenas o grande veneno inebriante que dissocia o indivíduo do propósito maior da evolução.
Aparentemente, o ser humano tem disputado poderes com representantes do mais alto escalão celestial, contestando e deturpando a verdade absoluta em favor de verdades pessoais, em geral, equivocadas. Com isso, chega à conclusão de que caridade é dar esmolas, quando ela começa na aceitação ao outro; que amor é um sentimento apaixonado e apegado, quando ele é uma energia com terrível poder de criação e manifestação que arde no ego causando muitas dores morais para quem está agrilhoado a ele.
A religiosidade deu lugar à insanidade idólatra porque, no lugar de se esforçarem na direção da verdade e na vivência do amor, que é o sentido verdadeiro do apostolado, as comunidades humanas preferem se unir em torno de líderes de personalidades fortes que inventam suas próprias leis e verdades, conduzindo a massa para respostas prontas, não necessariamente verdadeiras.
Aceitar essas verdades por preguiça de exercer o direito de pensar — o que por si só é uma afronta à inteligência da qual somos dotados —, como no caso da multidão seguidora de O Segredo, é o que vem condenando esta humanidade ao estacionamento espiritual e, o que é pior, que a tem condenado à destruição.
No pano de fundo que leva a esse comportamento está o fato de que, para a maioria, sucesso é alcançar estabilidade financeira ou fortuna, estar com a pessoa amada, exercer a profissão de que gosta e ser bem remunerado por isso, fazer as viagens que desejar ao redor do mundo, ter um carro, uma casa própria... O sucesso neste mundo tem sido medido a partir do critério das posses mundanas. Contudo, o verdadeiro sucesso pertence ao espírito, à pessoa que, diante das riquezas do mundo, abre mão delas para não corromper seu propósito de alma.
Mas há quem, como Voltaire, não se submete a nenhum poder efêmero do mundo se isto ofender seus princípios morais. Tampouco vende um projeto que pode curar uma doença humana se perceber que ele não será colocado em prática. Pena que é a minoria.
Que milagre pode operar o segredo numa pessoa que abre mão de sua postura mais nobre em prol de dinheiro e poder?
O pensamento positivo de fato é um segredo desvendado de realização, até porque movimenta o poder da incontestável lei da atração. Mas, se ele for usado com o foco na matéria, no enriquecimento pessoal, que bem estaremos fazendo para a humanidade ou para nós mesmos?
Sem dúvida, a melhor maneira de você ser melhor para o mundo é sendo melhor para si mesmo, ou seja, estar cada vez mais liberto dos apegos, acender a luz da própria alma e apenas deixá-la iluminar o caminho.
Todo ser vivo ocupa um lugar extremamente importante no nosso ecossistema, mas não nos lembramos disso na hora de agredir a natureza a ponto de exterminar espécies inteiras. Com o ecossistema abalado, nossa própria sobrevivência está ameaçada. Por outro lado, “o amor tudo pode”, e é com ele que salvaremos o mundo, desde que respeitemos a imediata necessidade de sua aplicação.